Muitos meses de preparação envolvidos, muito sacrifício de vida pessoal, muito suor, muitas horas gastas pela organização, muito reboliço e gente envolvida, muita paixão, muita vontade, muita determinação, muita auto-superação, muito comprometimento emocional na criação das personagens, e muito sacrifício físico dos bailarinos. Temos uma relação amor-ódio com a dor. Toda a nossa biologia nos faz fugir da dor, no entanto o bailarino tem um circuito neurológico estranho que lhe diz que a dor é o único indicador de que está de facto a evoluir e isso embrulha a dor num grande e cor-de-rosa laço de prazer e realização pessoal.

Na semana anterior aos espectáculos falo sempre com os meus botões: "Mas para que te metes nisto? Não tens já coisas demais em mãos? Tens mais do dobro da idade, peso e altura de 90% das outras participantes. Até a tua mãe te chamou "ganso". Thanks mom, sempre com o moral lá em cima! Para que te deixas envolver neste desgaste físico e nesta montanha russa novamente? Não aprendeste nada o ano passado? Vê se para o ano te lembras deste nó no estômago e no farrapo em que tens o cérebro e o corpo ok?"

Mas no momento em que se entra em palco tudo desaparece. Só queremos aproveitar o momento e fazer algo especial para quem assiste. E no espaço de dois pares de horas o frenesim, o pânico e a ansiedade transformam-se em euforia e felicidade, que deixam um travozinho de melancolia e saudade no fim.

E mais uma vez esqueci-me do nó no estômago, no cérebro e nos músculos. São momentos únicos que partilhamos com pessoas que adoramos e admiramos, e que tornam as nossas vidas únicas e apetecíveis. Só quem está atrás daquele palco sabe a cumplicidade gigante que nasce entre quem compra ficha para este carrossel. E por isso tenho tanta pena que o nosso grupinho não tenha estado todo junto na feira popular este ano!

Ainda assim foi incrível, pois a produção deste ano subiu não um degrau, mas um lanço inteirinho de escadas. Foi especialmente fantástica e memorável. O cenário teve um upgrade para uma versão 2.0 cheia de brilho e classe. E a Orquestra envolveu toda esta aventura numa aura de magia e maravilha. Estou ansiosa por ver o vídeo =)

Obrigada Cuca e Sofia, por me permitirem agarrar oportunidades destas que sem dúvida definem grande parte do que sou e quero ser, e que me dão tão bons motivos para adorar a vida que tenho! E obrigada às minhas bailarocas, do palco e dos camarins, ao João Gastão Rothbart, e aos meninos Domus pela diversão e cumplicidade =) Adorei cada momentinho desta aventura convosco.

Qual é o próximo?