sexta-feira, 23 de setembro de 2016
Outono e as ironias da vida
06:23:00O primeiro dia de Outono foi uma merda. Se fosse uma romântica estender-me-ia a qualificar o quão poética é toda a situação. O início d...
O primeiro dia de Outono foi uma merda.
Se fosse uma romântica estender-me-ia a qualificar o quão poética é toda a situação. O início da época em que a Natureza esmorece, caduca, morre, e o céu fica mais cinzento a cada dia, foi marcada por uma tragédia paralela de alguém próximo. Diria então que todos os Outonos são belíssimos, e são a oportunidade para a renovação e o renascimento... E blablabla!
Como pendo mais para o cinismo do que para o romantismo, digo antes como é irónica toda a situação. Temos tendência a desmarcar-nos da Natureza como se fôssemos superiores a todos os outros habitantes vivos do planeta. Esquecemo-nos tantas vezes que somos vencíveis como os demais. Não somos um ser à parte inatingível por aquilo que faz de todos os seres vivos como tal. A nascença, a "maturação", e a morte.
Por termos estes conceitos tão escondidos no fundo do cérebro, e apesar da dor que causa, da sensação de perda e/ou saudade antecipada, precisamos destes Outonos para nos lembrar que isto é lei, e que o Inverno se avizinha terrível e implacável. E acabou! Cai o pano. That's all folks!
Só assim consigo entender o conforto que tantos encontram nas crenças divinas e na ideia de "vida para além da morte". Não me sentindo no entanto minimamente tentada a alinhar nesse credo comum, respeito e entendo a necessidade de tantos.
A esperança romântica na Primavera que virá depois do calvário é um tanto ou quanto vã. O renascimento nada mais é do que o nascimento de uma nova geração. Não é o NOSSO renascimento. A nossa vida não se mede por períodos de translacção da Terra. Mais uma moedinha, mais uma voltinha. Não temos milhares de milhões de ciclos de estações. A Primavera é de quem vem a seguir, só é nossa uma vez. Assim como o Verão e o Outono. Apenas o Inverno será eterno.
Sou feliz por ter tido o prazer de cruzar a minha vida com a de quem nos deixou ontem. Sei que o seu cachimbo, a sua gargalhada, a sua rectidão, os seus princípios bem marcados, o seu bigode, e a sua sensatez contribuíram para que a minha vida fosse melhor.
Faço então por valer cada estação da minha vida. E espero vir a deixar o terreno bem preparado para a Primavera ser próspera, e quem me seguir poder ter uma vida tão cheia como a minha está a ser.
Ah, e por acaso adoro o Outono!