O mal do mundo é...

O mal do mundo talvez seja sermos criaturas nascidas do caos, sermos imperfeitos, sermos fe itos de Bem e de Mal, cedermos à tentação do po...

O mal do mundo talvez seja sermos criaturas nascidas do caos, sermos imperfeitos, sermos feitos de Bem e de Mal, cedermos à tentação do poder, do prazer...
O problema não creio que seja acharmos que os fins justificam os meios. É acharmos que podemos usar o conhecimento para proveito próprio, independentemente do efeito que terá na envolvente. É a falta de ética que se agrega à falta de respeito e empatia pelo outro, ao medo do desconhecido, ao instinto de sobrevivência e à insatisfação eterna... A necessidade de busca de momentos de êxtase eternos! Que não existem. É quimicamente impossível. O nosso cérebro irá tender sempre para um ponto de equilíbrio.

O ser humano não é um monstro, um ser vivo à parte dos restantes, o filho ilegítimo da Mãe Natureza. Os discursos que figuram o Homem e a Natureza como antónimos são no mínimo descabidos. O Homem não é um ser vivo diferente dos restantes. Os elefantes não são bonzinhos, e os Homens  não são um nojo.



Em que ponto da evolução dos seres vivos é que foi introduzido no ADN da nossa espécie um gene robótico maligno? Foi quando passámos de símios primitivos a bípedes? Foi quando percebemos como fazer fogo? Ou quando começámos a acreditar em conceitos e coisas que não vemos, que são fruto da nossa imaginação e interpretação, como o sentido de unificação das tribos, ou dos impérios, ou das religiões, das empresas?
Não existe um momento em que o ser humano de repente começou a achar-se superior a tudo o que o rodeia. Somos de facto diferentes, somos de facto mais inteligentes (no significado literal da palavra que foi por nós criada). Por nos apercebermos disso, surgiu a religião, a filosofia, a ciência, a investigação. Tudo para justificar, e tentarmos perceber o que somos, porque existimos, o que temos de diferente, o que é a alma, se ela existe sequer, porque sentimos prazer, porque sentimos dor que não física, porque somos capazes de criar música, pinturas, imaginar histórias, imaginar mundos que não existem, nunca vimos, nunca ninguém nos falou deles. De onde vêm essas imagens, o cruzamento de ideias? Não conseguimos parar de perguntar coisas. O nosso cérebro é tão complexo, usamos tão pouco dele, e sabemos tão pouco dele, que pensar conscientemente em todas estas questões é esmagador!

Perdidos no meio destas questões, e na busca eterna pela felicidade, tornámo-nos egoístas, e esquecemos as consequências das nossas criações para o planeta, e para as outras espécies vivas. Como em tudo, o poder deveria ser sempre acompanhado de grande responsabilidade. Mais do que nunca antes, o conhecimento está disponível e acessível. Mais do que nunca antes o conhecimento é a maior arma de poder. Mais do que nunca antes é fulcral a formação do ser humano para que o conhecimento seja verdadeiro e não virtual (aquele da Internet em que se acredita, e não se sabe de facto). E no entanto, nos dias que correm há uma percentagem ainda bastante relevante da população que é analfabeta (16%), e que tem falta de acesso a bens de primeira necessidade e infraestruturas básicas que garantam condições mínimas de saúde (30% da população não tem água potável em casa, 60% da população não tem acesso a saneamento seguro - dados OMS e UNICEF 2019).

Faz-nos sentir muito mal pelos 35 presentes que os nosso filhos receberam este Natal, não?

Como é que havendo tanta gente sem acesso a água potável, casa de banho com esgoto, e ensino básico, o que preenche o dia do resto da população é pensar em consumir mais sabe-se lá o quê? Quando é que a nossa ideia de felicidade se vinculou definitivamente à posse de itens materiais? Quem é que nos convenceu de que para alimentarmos a nossa alma, e darmos aqueles minutinhos de sensações boas ao nosso cérebro, tínhamos obrigatoriamente de comprar coisas, ter coisas? Sempre mais e melhor. Quando é que os nossos cérebros ficaram definitivamente entregues à ânsia de obter bens descartáveis?

O mal do mundo talvez seja o marketing!

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