Só sei que nada sei...

Desengane-se aquele que se acha muito bem informado sobre a temática do ambiente e da ecologia e das alterações climáticas.  Aliás, desenga...

Desengane-se aquele que se acha muito bem informado sobre a temática do ambiente e da ecologia e das alterações climáticas. Aliás, desengane-se aquele que se acha muito bem informado sobre o que quer que seja actualmente.

A internet tem muita informação e muita desinformação. E este tema é extremamente complexo. Por mais informação que haja, não há ciência no mundo capaz de agregar os dados obtidos de cada área, de cada parâmetro, de cada factor, e desenvolver um modelo próximo da realidade. O que desconhecemos sobre o nosso planeta é muito mais do que o que conhecemos dele. Sabemos mais sobre o nosso sistema Solar do que sobre o fundo do Oceano, por exemplo.

86% da população mundial sabe ler e escrever. 11% da população mundial tem educação superior. Quantos desses 11% serão formados em temáticas das ciências da terra e da vida, e que possam  verdadeiramente perceber os conceitos que envolvem o comportamento do planeta desde o seu centro até ao limite da atmosfera? E dessa percentagem de gente formada superiormente em ciências, quantos são os que trabalham em investigação, ou a nível académico, e que podem dizer que estão actualizados ao momento sobre todos os avanços e descobertas envoltos nesta temática?
Por mais informação que exista disponível na internet, ela não é inteligível para, no mínimo, 97% da população. Portanto, o que gostava de dizer aos fofinhos "donos da verdade" das alterações climáticas causadas pela acção humana é:

SHUT THE FUCK UP!

Parem de achar que são os Einstein da meteorologia. Parem de fazer os outros sentirem-se mal por não estarem cobertos de sabedoria sobre os 101923890 factores e estatísticas de comportamentos atmosféricos.
Quantas estações meteorológicas existem? Quantas existiam há 40 anos? Os equipamentos são os mesmos? Que variáveis lêem? Que variáveis liam há 40 anos? As calibrações são as mesmas? As pessoas que operam os equipamentos são as mesmas? Têm as mesmas formações? Quantos resultados lêem por dia? Quantos resultados descartam por dia? Com que base descartam resultados? A base é igual para todos os pontos do Mundo? Qual é a entidade que ensina, certifica e fiscaliza os técnicos? Qual é a entidade que uniformiza tudo? Qual é a fórmula que determina a temperatura média da superfície do Planeta? Quais são os métodos de aferição e estudo do clima desde o início dos tempos quando não existia a escrita nem estações meteorológias, e muito menos a imprensa e as redes sociais?

Estão a ver? Sabem tanto disto como o senhor que trabalha num arrozal da China. Vamos ser todos humildes e repetir a seguinte frase na nossa cabeça, até interiorizar: Só sei que nada sei!


Imaginem que há 1000 estudos em klingon que chegam todos os dias, cuja manchete da publicação diz:


TOMAR BANHO NO MAR MATA 23454 PESSOAS POR ANO E DIMINUI ESPERANÇA MÉDIA DE VIDA.

E há 5 estudos em sindarin cuja manchete diz:


TOMAR BANHO NO MAR SALVA 23454 PESSOAS POR ANO E AUMENTA ESPERANÇA MÉDIA DE VIDA.

Estamos habituados a tomar banho no mar, temos enorme prazer nisso, e até hoje sempre ouvimos que faz bem a tudo.
Eu não falo klingon nem sindarin. Sendo um assunto super importante para mim, iria aprender klingon e sindarin para traduzir os estudos, interpretá-los e posteriormente decidir.

Mas a maior da população não tem como aprender coisas complexas, como o é este tema. Com todas as variáveis e décadas de investigação e falta de conhecimento da área, e questões científicas por responder, e conclusões que se apoiam em hipóteses (e não em teorias comprovadas).
Portanto, só podem contar com o instinto/subconsciente/crenças como decisores. Seguem então o caminho que conhecem, que fizer mais sentido dado o contexto académico e de vida, ou apenas o que fizer melhor campanha. Ou seja, vencerá a manchete que enraizar melhor a informação na cabeça das pessoas...

Mesmo para quem entretanto aprender klingon e sindarin, é impossível verificar a verdade científica da maior parte das coisas que lê. E se for demasiado científico não entende. Se eu começar aqui a desbobinar sobre aerodinâmica dos ventos, reacções químicas no interior das plantas, reflexões de luz e reacções químicas com o mar e as algas, ou sobre o ciclo das diatomáceas, ninguém entende. Surgirão sempre mais perguntas que respostas. Por isso, a informação que achamos que temos como certa é apenas fruto daquilo que estamos mais predispostos a acreditar em.

Todos os artigos científicos relatam brevemente experiências, com variabilidade de determinado número de parâmetros, mantendo todos os restantes "fixos", caso contrário não é possível analisar a influência de cada um dos parâmetros na acção que se está a analisar. Os artigos descrevem como são obtidos os dados e quais são as conclusões. Mas não mostram a ciência para comprovarmos se está tudo correcto. Não mostram os milhões de factores que não foram tidos em conta.

Agrava também o facto de existir a estatística no tratamento dos dados obtidos, e de esta poder ser manipulada para que o resultado científico seja o pretendido, consciente ou inconscientemente, pelo cientista. A estatística usada em cada processo científico determina que amostras serão descartadas, quais podem ser utilizadas, se umas terão mais peso que outras, o número de dados que tem "qualidade" para permanecer no estudo, etc... É super complexo. Nenhum de nós pode dizer que sabe tudo sobre tudo isto, para poder ter espírito crítico sobre o que lê, e ter a certeza de que está super bem informado.

Qual a solução?

Será que a solução passa por confiar cegamente na integridade de todos os investigadores do mundo? Acreditar que são seres humanos totalmente éticos, incorruptíveis e que não se deixam "comprar"? Que não aliam as suas crenças, ideologias políticas, e expectativas aos seus estudos? Ao contrário do resto dos Homens que pisam esta Terra que são todos uma cambada de burros anormais que só destroem o planeta?
Será que o Homem está dividido em duas classes:
1) os idiotas maléficos capitalistas e capitalizados, e seus cientistas comprados, que destroem o planeta;
2) os cientistas de auréola e asas de anjo envoltos em ética, moralidade, verdade e bondade.

NÃO!

Ou será que a solução passa por confiar na imprensa, e na informação que circula nas redes sociais? Confiar que as imagens que circulam são actuais, e que não foram adulteradas, quando eu consigo colocar uma imagem minha a fazer alpinismo na Torre Eiffel com o Paint em 2min?

NÃO MEEEESMO!


Não há verdade absoluta, não há conhecimento absoluto, não há Bem nem Mal absoluto, e não podemos sentir-nos perfeitamente informados nunca.


Então mais vale não fazer nada e continuar a ir com a maré. Óbiamente que noum!


Podemos fazer com que, o que quer que seja que aconteça de destrutivo à nossa volta, não tenha origem na nossa acção directa. Podemos repensar os passos que damos no nosso quotidiano, e analisar porque os fazemos, se temos mesmo de os fazer, se existe uma maneira mais eficaz e respeitadora de o fazer. Podemos chegar à conclusão que não temos alternativa, mas pelo menos passamos a fazê-lo com consciência e responsabilidade. E não porque somos umas ovelhas bem mandadas pelo marketing e pela mão fria do capitalismo/consumismo.

1) se eu posso ir a pé em 7min, não vou pegar no carro para demorar os mesmos 7min entre ir e procurar estacionamento;
2) se tenho roupa que chegue, não vou comprar mais;
3) se posso usar menos água, vou tomar banhos mais curtos;
4) se posso produzir menos lixo, vou ter cuidado com o que compro e como;
5) se posso usar uma escova de bambu, vou deixar de usar uma escova de plástico;
6) se posso usar talheres e louça perene, vou RECUSAR SEMPRE louça descartável;
7) se posso andar com um saco bem enroladinho que não ocupa espaço nenhum no carro ou na bolsa, vou RECUSAR SEMPRE os sacos das lojas, mesmo que sejam sacos de pano ou papel;
8) se posso usar cosmética sólida natural produzida em Portugal, vou deixar de comprar cosmética cheia de químicos sintéticos, líquida, em embalagens não reutilizáveis/recicláveis, cujo peso da distribuição e embalamento são agressivos;
9) se posso comprar uma garrafa de inox ou polímero reutilizável, vou deixar de comprar garrafas de água descartáveis;
10) se posso lavar a roupa com a máquina cheia, não vou lavar duas peças de roupa sozinhas;
11) se posso apenas sacudir e arejar uma peça de roupa que não está suja, não vou lavá-la a cada utilização;
...


REPENSAR | RECUSAR | REDUZIR | REUTILIZAR | REPARAR | RECICLAR-COMPOSTAR


É lixado quebrar hábitos, i know! O caminho é longo, é melhor dar corda aos sapatos e começarmos já. Estamos juntos!



Poderá também gostar de:

0 comentários

Deixe mensagem