Atracções do minimalismo #1

Ao longo dos últimos anos fui-me cruzando com diversos textos e testemunhos sobre o minimalismo como modo de vida. O termo é conhecido ...



Ao longo dos últimos anos fui-me cruzando com diversos textos e testemunhos sobre o minimalismo como modo de vida. O termo é conhecido de todos, e o conceito é automaticamente definido pelo termo, portanto não é preciso explicar né?

Pessoalmente não consigo identificar-me 100% com esta filosofia, pois o que preenche e dá gozo à vida é todo o leque de emoções boas que ansiamos por sentir. E essas emoções partem obrigatoriamente de algo inútil, dispensável para a nossa sobrevivência. São os extra que fazem valer a pena e dão propósito a esta vida insignificante. Como diz o nosso amigo Oscar Wilde, "podemos perdoar quem faça algo útil desde que não o admire. A única desculpa para fazer algo inútil, é que a admiremos intensamente. Toda a arte é completamente inútil!". Quem diz arte diz qualquer actividade de lazer, como desporto em geral, turismo, etc...

Dorian Grey - Se não entenderem a referência e a ligação com o texto, leiam o livro por favor ;)

No entanto, alguns argumentos do minimalismo são tão atractivos que vale a pena pensar em como conseguir encaixá-los na nossa própria e personalizada maneira de viver.

RESET
Façamos um teste: esvaziemos (mentalmente ou de facto) a nossa casa, a agenda de compromissos, as actividades diárias, os grupos de amigos, os familiares, os gadgets e electrónica, as redes sociais. Imaginem que colocam tudo dentro de caixotes com etiquetas identificativas. Agora apenas vamos retirando aquilo de que precisamos e apenas no momento de necessidade.
Há várias coisas que vamos poder perceber sobre a nossa vida:

1) Há demasiado ruído de fundo, demasiado tempo desperdiçado em actividades que não contribuem em nada para a nossa felicidade, antes pelo contrário:
- scroll nas redes sociais;
- ver programas aletórios na TV só porque a televisão está ali e não custa nada deixá-la ligada para "entreter" (Ora vamos ver o que está a dar hoje. Está a dar alguma coisa de jeito? Não! Mas ficamos a ver na mesma. Nem que seja um episódio de uma série que já vimos 7 vezes e não é nada de especial.);
- limpar a casa - temos tralha em casa que não usamos, não passamos cartão nenhum no dia a dia, apenas contribuem para acumular pó e dificultar e prolongar a tarefa de limpá-lo;
arrumar a casa - temos coisas, coisinhas e coisetas que estamos constantemente, diariamente, a arrumar nos "sítios certos" e a organizar.
Usamos o nosso tempo com muito pouca eficácia. Desperdiçamos demasiado em coisas que não têm o mínimo valor para nós. Tempo que podíamos acumular para usar noutras coisas que nos fazem sentir bem. Quantas vezes pensamos: Gostava tanto de fazer/ir, mas não tenho tempo! Se calhar temos. As coisas a que dedicamos o tempo, a prioridade e organização, é que não estão como deve ser.


Quantas vezes por dia dizemos: Tenho que ir, já estou atrasad@!

2) Temos demasiada coisa em casa que não usamos, apenas nos "descansa" pensar que estão ali caso precisemos. O mercado imobiliário impinge-nos casas com grandes áreas, montes de arrumação, para quê? Para acumular tralha. Vivemos em espaços a explodir de coisas que não precisamos para absolutamente nada. A não ser que tenham algo que já não se encontra no mercado actual, e vos faz falta uma vez por ano, ou no caso de terem um espaço em casa, tipo uma garagem, onde dê para ter um armário super organizado, e de fácil acesso a tudo; se já não usam essa coisa há 2 anos Oupas! Fora de casa com isso!
É algo que vão precisar de 3 em 3 anos? É algo que conseguem pedir emprestado a alguém que dê muito uso? É algo que conseguem comprar em 20 minutos se houver uma emergência? Custa menos de 20€? Oupas! Fora de casa com isso!
O mundo de hoje não pede que a nossa casa seja um leroy merlin de prevenção. Não vivemos a 20km da loja mais próxima, nem do familiar/amigo mais próximo. E a loja mais próxima abastece todos os dias e todo o tipo de produtos imaginários, não precisamos de perguntar: Oh Evaristo! Tens cá disto?
O Evaristo hoje em dia tem tudo. A pergunta que se faz é: Oh Evaristo! Onde é que está isto?
E mesmo que vivam a 20km da civilização (que sonho, quem me dera), encomendam online e entregam-vos à porta no próprio dia até.

Quem tem serviço de pratos/talheres/copos todo incrível, mas que o guarda para as ocasiões especiais, não vá partir alguma peça?

3) Há várias pessoas das nossas relações que apesar de termos o maior do carinho por elas, não nos "puxam pra cima". Pessoas negativas, depressivas, com locus de controlo externo que só sabem reclamar da vida e do mundo, e falar da vida alheia. E outras que apesar de positivas e bem dispostas não têm nada para nos dar, só sabem falar de nada, não têm ideais/filosofia de vida/interesses/preocupações em comum connosco. Não tem mal nenhum, essas pessoas não têm uma maneira de viver errada, e nós certa. Gostamos delas no sentido de querermos o melhor para elas, e de estarmos disponíveis para as ajudarmos e apoiarmos em situações piores e melhores. Apenas não existe uma relação produtora de bem estar e serenidade com elas.
No entanto, outras há, com quem até não passamos tanto tempo, porque a vida individual não aconteceu assim até então, mas com quem teríamos tanto para conversar e aprender.
Porque não fazer um refresh às nossas relações também, torná-las mais eficazes, mais produtoras de bem-estar para todos?

Às vezes somos tão ou mais tolos que os que nos parecem tolos, e é no meio deles que estamos bem. A "sociedade" é que ridiculariza os tolos, porque não os entende. Tem a vista curta.

4) Para fazer um reset, temos de mentalizar-nos que temos mesmo de perder a formatação anterior. Esquecer o que os outros pensam de nós, que vão achar que somos estranhos, que não temos juízo, e que só fazemos merda, e que um dia vamos pagar pelo que estamos a fazer, e que o bom é ser como os outros e fazer como os outros. E aqui faço um parêntesis. Esquecer o que os outros pensam de nós não é esquecer respeitar os outros. É precisamente o contrário, é aceitar os outros tal como eles são, tratá-los com bondade, e como queremos que nos tratem a nós.
É dar-nos a liberdade de sermos quem queremos ser, sem julgamentos. É definir a nossa lista de prioridades como faz sentido para nós, e não como a massa da população que nos rodeia, e os media, acham que deveria ser.
É organizar o nosso tempo e o nosso espaço do modo como se molda ao nosso verdadeiro bem-estar. E não ao bem-estar que é suposto sentirmos de acordo com as regras dos outros.
Eu já descobri há bastante tempo que não tenho nenhum bem-estar em trabalhar que nem uma louca, para acumular imenso dinheiro no banco, e comprar uma casa nova, um carro novo de 2 em 2 anos, mudar o guarda-roupa todas as estações, ter um telemóvel novo todos os anos, engolir todas as séries e mais alguma, principalmente aquelas tipo GOT que invadem as redes sociais, e que fazem qualquer um olhar para nós como se fôssemos de outra galáxia quando dizemos "desconheço! adormeço! é uma seca! os actores são em média fraquinhos!".
Eu até peco pelo contrário às vezes, sou do contra. (A sério? - perguntam vós. Ainda não tínhamos reparado.) Detesto quando as coisas de que gosto começam a fazer sucesso demais. Tipo Coldplay, Harry Potter... Mas isso é tema para outro post, e nada tem a ver com este.

WHO ARE YOOOOU?

O reset é óptimo para renunciarmos a toda e qualquer coisa e/ou hábito que a sociedade nos queira convencer de que iremos ser super felizes se o consumirmos. É um exercício que nos leva a descobrir o que de facto contribui para o nosso bem-estar, mesmo que não tenha famílias felizes no anúncio, ou embrulhos atractivos, ou toda a gente à nossa volta a fazê-lo.
A nossa felicidade e bem-estar depende do que pensamos, não depende de agentes externos, senão todos reagíamos com felicidade às mesmas coisas e eventos. O reset com o minimalismo ajuda-nos a fazer uma limpeza higiénica ao cérebro, e a (re)conhecermo-nos. Torna-nos mais eficazes na gestão da vida para que seja mais serena, harmoniosa, equilibrada. prazeirosa, e com bondade.

Parece que estou a pregar budismo...

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1 comentários

  1. Gostei. Cada vez q vou para fora e no armário fica tanta roupa que nem parece que foi feita uma mala, penso q alguma coisa está errada.

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