BALLET EVOLVED

Há dias em que acordo toda bailaresca, e só penso em ballet o dia todo, e só quero devorar vídeos de ballet, e pesquisar coisas sobre bal...


Há dias em que acordo toda bailaresca, e só penso em ballet o dia todo, e só quero devorar vídeos de ballet, e pesquisar coisas sobre ballet... e ballet ballet ballet. Torna-se um pouco obsessivo, eu sei! É uma coisa que ataca o pessoal bailaresco. Só os loucos sabem =)

Nas minhas pesquisas vou encontrando coisas giríssimas e muito interessantes, mas que nunca aparecem bem organizadas e sequenciadas. É tipo as cerejas: vou tirando uma e vem outra atrás e outra atrás e outra atrás. A certa altura tenho 20 tabs abertos.
Eis que há uns anos descobri algo que quero dar-vos a conhecer, e que poderá ser a melhor compilação de sempre de "Ballet para tótós" ou "Ballet para quem quer um resumo de destaques".

Em 2013 a ROH teve a brilhante ideia de retomar os passos e técnicas usados no ballet desde os seus primórdios, descrevendo a sua origem e registando a evolução ao longo dos séculos. Esta ideia ganhou vida numa série de vídeos que atingiram recentemente o #15. Somos convidados a entrar nesta entusiasmante linha do tempo pela carismática Ursula Hageli, que tem o dom de conseguir transmitir a mensagem "como se fossemos todos loiros": de forma leve, preenchida de curiosidades, e com demonstrações práticas cheias da boa disposição que caracteriza a espécie britânica.
A aventura tem assim início na era barroca, com os espartilhos, quartos de ponta, meias piruetas, pas de bourrées, arabesques, e o que deu origem ao passo fundamental da valsa.


O último vídeo foi publicado no dia 17 deste mês e expõe a diferença dos exercícios de barra desde o início do século XIX. As maiores discrepâncias revelam-se na longa duração e simplicidade dos exercícios de 1800, face ao encurtamento e complexidade dos dias de hoje com movimentos muito mais amplos e extensos. Ressalva-se o facto de a barra ser antes executada em 15min, e agora nuns largos 45min.
É engraçadíssimo ver a seca que o Marcelino e a Gemma passam a fazer os exercícios de Blasis.

[Para quem não sabe o Marcelino Sambé é português e é um solista incrível da ROH. Aconselho a lerem a biografia aqui, e a pesquisarem tudo o que puderem sobre ele.]

Para finalização da barra hoje em dia recorremos aos alongamentos. É o momento em que os bailarinos se encontram mais quentes, e como tal a hora perfeita para levar ao extremo a extensão de todos os músculos do corpo.
Contudo, no início do século XIX este tempo de alongamento era substituído por algo que eu considero super constrangedor que são as Plastic poses. Oh não! Que figurinhas!



Entretanto, ao longo do caminho entre o vídeo #1 e #15 são-nos apresentadas várias estrelas do ballet que o tornaram no que podemos ver e praticar hoje, sendo que destaco em especial:

#1 Carlo Blasis (1797-1878) foi um bailarino e coreógrafo italiano, e o primeiro teórico do ballet. As suas aulas eram duríssimas (4h), e tinham uma forte vertente de conhecimento teórico de passos e movimentos. Blasis foi um pioneiro no pensamento da dança. Para ele não bastava olhar para o professor e copiar. Cada um devia ter conhecimento suficiente para obter o melhor de si e ultrapassar o seu mestre. Com este intuito publicou o primeiro documento escrito de análise técnica de dança "Traité élémentaire théorique et pratique de l'art de la danse". Blasis é assim o avô do ballet como o conhecemos hoje, e de alguns pontos-chave como o turn-out de 90º, em vez dos 45º da era clássica, e a pose Attitude. Para quem desconhece, esta pose foi inspirada na escultura Mercúrio de Giovanni da Bologna (1580) que se encontra no Louvre.Esta estátua tem tudo a ver com ballet: leveza, liberdade e graça. Aí vai o Mercúrio todo lampeiro a voar sobre o Zéfiro. Bem visto Blasis. És o maior!


#2 Enrico Cecchetti (1850-1928) foi o pai do ballet que conhecemos hoje. O método Cecchetti criou os melhores bailarinos e professores do início do século XX como Anna Pavlova, Alicia Markova, George Balanchine e Serge Lifar, que vieram a fundar algumas das mais famosas companhias de ballet do mundo.
Vale a pena pesquisar também alguns dos vídeos destes bailarinos no youtube e compará-los com as mesmas coreografias executadas hoje em dia. A título de exemplo deixo aqui a variação do 1º Acto do bailado Gisele, executado por Alicia Markova em 1951 e por Natalia Osipova em 2014 (não encontrei a Marianela).




Aprenderam umas coisinhas de ballet? Espero que sim.

Bons bailados!

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4 comentários

  1. Seria interessante de pesquisar no que toca a lesões, com facto de os exercícios se terem tornado mais rápidos e mais dinâmicos e mais, e mais puxados, se hoje temos mais ou menos bailarinos lesionados. As bailarinas de antigamente pareciam conseguir dançar até muito tarde e hoje reformam-se muito mais cedo.

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    1. Olá Josi. Tens razão. Acho que em qualquer desporto/dança cada vez acabas a "carreira" mais cedo. Cada vez exigimos mais do corpo na evolução da arte para fazermos coisas mais e mais e mais espectaculares e competitivas. E o que acho é que a fisiatria/ortopedia/fisioterapia têm evoluído e apresentado boas soluções, mas não conseguem fazer face a todo o desgaste do corpo de um atleta, porque o nosso corpo também tem um limite de regeneração. Qualquer dia somos seres biónicos, humanos com ligamentos robóticos =)

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  2. Obrigada, Inês, por me iniciares nessa «coisa» que é o ballet! ;)

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